Fechei
os olhos, só havia escuridão.
Quando
os abri, procurei pela luz do dia, mas tudo continuava igual. Eu estava imersa
naquele breu infinito por mais que eu tentasse procurar um mínimo raio de sol e,
às vezes, eu podia ver algo, as sombras borradas das pessoas, casas e carros que
entravam na minha frente em um breu mais profundo.
Eu
estava indo na direção contrária, mas por quê?
Por
que eu estava na escuridão lutando contra a corrente natural da vida?
É
fácil, dizia a minha mente, você deve fazer tudo de maneira natural, seguir a
linha da vida, estudar, se formar, trabalhar, casar, ter filhos... É uma
receita que todos estão seguindo, é fácil, deixa de frescura.
Respirei
fundo, mas algo estava errado dentro de mim. Virei as costas e caminhei junto
com eles, mas a escuridão se tornou completa.
Era
difícil caminhar, meus pés se afundavam em uma areia movediça que me puxava
para baixo, mas eu não conseguia vê-la.
Pessoas
passavam ao meu redor ignorando o fato de eu estar lutando contra aquilo que me
puxava para baixo, sorrisos falsos e olhares vazios estavam estampados em seus
rostos. Não passavam de máscaras sem cor.
Estiquei
meus braços, quase em câmera lenta pelo ar. Procurando por algo em que pudesse me
agarrar, mas não havia nada que me trouxesse de volta para a superfície.
As
pessoas continuavam a caminhar ao meu lado, quase pisando no meu corpo, sem
importar em deixar suas pegadas em mim. O asfalto áspero sobre o qual eu
apoiava o rosto me machucava como uma carícia masoquista.
A dor significava que
eu estava crescendo, certo? Amadurecendo.
Um
vagalume passou no meio da escuridão, movi minhas pernas dentro da areia
movediça e apoiei as mãos sobre o asfalto cortante, saí daquele buraco, com a
roupa pesada pela areia molhada que fazia peso sobre minhas pernas quase
imóveis.
Corri
o mais rápido que pude para alcançá-lo, empurrei pessoas que se colocavam no
meu caminho e gritei escutando o eco da minha voz ressoar nos corpos sem vida.
Continuei correndo atrás do vagalume, até que ele parou e eu finalmente pude
tocá-lo.
Um
clarão iluminou tudo ao meu redor, a luz era tão forte que eu não podia manter
os meus olhos abertos, os fechei novamente com medo de voltar à escuridão, mas
quando eu os abri, não havia nada ao meu redor, somente areia aos meus pés e um
céu azul. Pensei ter visto uma pessoa no horizonte, caminhei sentindo o cheiro
salgado de um mar que eu não podia ver.
Logo,
encontrei a pessoa que havia visto. Era meu reflexo em um espelho grande e
enferrujado. Eu vestia um longo vestido branco que voava com o vento, a beleza
daquela cena se desvanecia ao encarar meu rosto cansado e as olheiras tão
profundas quanto a noite. Atrás do meu reflexo, a escuridão se aproximava em
uma nuvem negra que queria me envolver a todo custo.
Olhei
para trás, estava de frente com os meus medos. Voltei a olhar o meu reflexo no
espelho velho e, logo, olhei para além dele, um céu azul com gaivotas e um mar
transparente. Ali, parada, eu estava de frente com o meu futuro.