Senti o vento batendo firme em meu rosto, minhas pernas leves e soltas. Meu corpo estava flutuando para longe e então eu soube que aquele era o dia em que eu estava finalmente livre.
...
Não
nasci para o estrelato e muito menos para o sucesso, eu era aquela que se autossabotava
para não chamar tanta atenção. Professores, pais, colegas, todos diziam o quão
talentosa eu era. Poderia ser o que quisesse, mas somente se sonhasse alto.
Nunca havia entendido muito bem esse sentido, a fama não me trazia a felicidade
e muito menos o anonimato. Eu precisava do meu palco, talvez um pequeno sem
tanta iluminação e “fru-frus”. Eu estava solta em minha própria peça, onde a
protagonista lutava para ser a coadjuvante que mais aparecia.
Aqueles
que entravam na minha vida eram afetados e brilhavam em minha presença. Vi
tantos sorrisos se formando e eu gostava de levar essa essência para todos
próximos de mim. Nunca entendi o ódio e queria acabar com esse sentimento desastroso.
Meu objetivo era levar um pouco de felicidade e esperança para aqueles que me
cercavam, mas estava claramente estampado em minha alma que eu era muito
pequena para conquistar algo de tamanha maestria.
Cresci
e concretizei alguns sonhos, casei, tive uma bela carreira, dois filhos lindos.
Algumas vezes me sentia completa e outras com alguns buracos a serem
preenchidos. Eu era uma pessoa normal e ao mesmo tempo extraordinária! Permear
entre o usual e a perfeição foi sempre uma de minhas características. Essa era
a minha maldição, nem isso, nem aquilo. Perdida e satisfeita ao mesmo tempo,
não sei se era pura loucura ou se todos eram assim.
E
lá estava eu parada diante do mundo. Um lugar cheio de possibilidades e
destinos ao qual eu estava acorrentada e livre ao mesmo tempo. Eu não aguentava
mais aquele sentimento de arrependimento, “talvez se eu tivesse feito mais”, “se
eu tivesse me esforçado mais...”, esse “se” essa era a minha maldição. Ser boa
o bastante, mas nunca acima disso.
Então
o grande dia chegou, eu estava pronta para partir... O primeiro passo foi dado,
ali ouvi o ranger das correntes se movendo e o tintilar delas ao atingir o
chão. Pulei... pulei o mais alto que pude! Senti o vento batendo firme em meu
rosto, minhas pernas leves e soltas. Meu corpo estava flutuando para longe e
então eu soube que aquele era o dia em que eu estava finalmente livre.
*Repost da blogagem coletiva de junho de 2015