Minha boca se movia rapidamente contando mais umas das minhas aventuras de vida naquele encontro que parecia estar indo bem. Em uma reviravolta do destino, aqui estava eu sentada em um restaurante com um completo desconhecido, pronta para compartilhar detalhes da minha vida que muito provavelmente não importariam em algumas horas…
Minha expectativa
para esse date era zero, esperava chegar e encontrar-me com um desastre, mas a
verdade é que tudo estava indo melhor do que imaginava.
Eu continuava
tagarelando sobre acontecimentos do trabalho, dos últimos anos da faculdade —
que pareciam estar um pouco distantes — e do antigo lugar que morava onde, como vizinha, tinha uma velhinha fofoqueira.
Ele também
compartilhava sobre sua vida, anedotas talvez não tão boas como as minhas, o que
era um bom sinal, já que a minha vida era digna de um filme de comédia romântica
só que sem a parte do romance, eu não estava preparada para mais loucura e
drama, mas estaria aceitando de bom grado o romance.
Olhei em
seus olhos, um tanto perdidos e sem jeito, como se não saísse para um encontro
há um bom tempo e senti que podia confiar nele.
Ah, se eu
pudesse contar tudo o que passei… e por que não?
Eu te
queria contar tudo o que aconteceu nesses últimos seis anos de amores
passageiros e desastrosos. Quero que você saiba que já me magoaram de maneiras
inexplicáveis entre juras de amor completamente da boca para fora.
Quero que
você saiba que já me prometeram o céu e as estrelas, fizeram loucuras para poder
estar comigo, disseram “te amo” olhando em meus olhos para logo ir com outra,
ou outras.
Já amei
muito quem me amou pouco e assim, de pouco em pouco, tudo foi se esvaindo até
terminar. Até eu me quebrar em pedaços sendo trocada, abandonada… Passando por
situações que nenhuma mulher deveria passar e a cada fim surgia um sentimento de
indiferença, desesperança.
Cada um deles levando um pedaço da minha capacidade de amar. Por isso eu te conto essas histórias.
Para que essa mulher esteja sentada aqui na sua frente hoje, houve
uma tormenta de sentimentos que teve que passar. Por detrás desse sorriso que você
se encantou, houve outros que também se encantaram e o transformaram em um
grunhir entre lágrimas e soluços de descontentamento.
O coração que você quer conhecer está fraturado, restando alguns pedaços que ainda tentam sobreviver a mais um encontro. E não é sua culpa que ele esteja assim ou que eu seja assim, talvez nem seja culpa dos exs que não souberam lidar com o meu amor e procuraram as formas ou motivos mais imbecis para terminar tudo. Brutos, indiferentes, sem compaixão. Me deixando em trapos, os sentimentos frágeis sustentados por alguns fiapos.
Eu não sou
fria.
Só estou
machucada.
Ainda não
sei quais são suas intenções, se isso vai para mais ou se é algo de uma noite. Me
entenda, vejo a sua intenção de segurar minha mão sobre essa mesa de jantar e
não é que não queira que o faça, não é que não queira seus carinhos ou toque. O
que não quero é o que pode vir com tudo isso, porque tudo começa de alguma
forma.
Um sorriso.
Um toque. Um beijo. Uma noite. Um pedido de namoro. Uma aventura. Um término…
Não é que eu não quisesse o seu dar de mãos ao caminhar até esse restaurante, o seu beijo na testa ou o seu abraço. O que eu não quero é sentir, porque o sentir já me magoou tantas vezes que é melhor deixá-lo de lado, porque não sei quanto mais poderei aguentar.
E não posso
pedir que você não sinta ou que mude algo, porque acabamos de nos conhecer. Também
não posso exigir uma promessa para algo que nem começou, não é justo pedir que
cuide de um coração que ainda não é seu e nem sei se vai chegar a ser.
Só não
quero me dar para um outro que só sabe drenar e não me encher de vida ou amor. Porque no
final do dia, amar é uma escolha… a qual já estou cansada de fazer.
Por isso te
conto essas verdades, para que assim talvez você não seja outro que brinque com
um futuro que ainda não existe e com sentimentos que ainda não afloraram.
Por isso
queria te contar tudo isso quase como um último suspiro dessa tentativa
estúpida de amar.
— Você está
bem? Ficou calada do nada. — Ele sorriu finalmente tomando coragem para tocar
na minha mão.
— Sim, sim.
Não foi nada. — Sacudi a cabeça espantando todo o meu discurso imaginário percebendo que ele estava um pouco nervoso sem saber como se comportar na minha presença, o típico nervosismo dos primeiros encontros.
— Tem certeza? Pode falar para mim.
— Nada não. — Respirei fundo tomando fôlego. — Então, qual é a sua cor favorita?
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