Barista

27.1.25



Abri a caixa me deparando com algo robusto que esperava há tanto tempo, estava repleta de expectativas.

O aço forte parecia ser tão duradouro e a esperança era que durasse para toda a vida, a cafeteira italiana perfeita, sem frescuras. Parecia simples, porém eficiente. A abri para colocar o café na medida certa e a fechei esperando pelo melhor que estaria por vir.

Liguei o fogo sentindo o meu coração palpitar de emoção, ver algo tão lindo ser formado a partir de uma fusão. O café moído ali dentro era pressionado, empurrado, judiado com tanta força que transbordava em um líquido quase preto. O aroma era bom.

Tentei tocar na cafeteira que ainda terminava de empurrar o café até o seu limite e me queimei. A dor da queimadura avançou por todo o meu corpo e pude sentir como corroía o meu ser.

Café servido, xícara fervendo.

O primeiro gole queimou a minha língua e o gosto era forte, amargo. Tanta pressão deixou um toque de queimado no fundo da garganta, amargurando a minha alma, já não havia volta atrás.

Por mais que tentasse e insistisse, o resultado era o mesmo e prometi a mim mesma que nunca voltaria a tentar com outra cafeteira italiana.

Depois conheci a cafeteira de cápsulas, tão sofisticada que me prometia a sensação e a experiência completa na sua casa com algo tão pequeno. As primeiras cápsulas vieram de graça, eram saborosas, potentes e traziam um ar de fantasia. O café dançava um tango apaixonado em minha boca que me fazia levitar a cada golada.

Até que as cápsulas acabaram, quis insistir comprando mais, mas já não era a mesma coisa. As cápsulas demandavam tempo, carinho e ao mesmo tempo poluíam um pouco mais a minha vida.

Rumores que a cafeteira poderia aceitar cápsulas que não eram originais e que teriam o mesmo resultado.

Traição.

Era verdade, eu havia gastado tanto tempo me esforçando com a experiência original e a máquina estava aceitando qualquer porcaria que encaixasse mais ou menos. Um plástico barato onde você poderia colocar um café moído meia boca sem ser embalado a vácuo, sem pressão e sem cuidado.

O gosto amargo dessa porcaria impregnava o meu paladar, fazendo com que eu não pudesse sentir mais o gosto de nada.

A máquina já estava impregnada e não funcionava da mesma maneira, os cafés eram asquerosos e decidi deixá-la para sempre.

Depois do desastre anterior, encontrei uma cafeteira francesa, era chique, muito delicada, mas era necessário ter muita paciência para que o café decantasse e pudesse separar o líquido dos grãos moídos. Na temperatura correta, o café era maravilhoso, encorpado, com toques naturais, sabor forte; mas jamais amargo.

O êmbolo era sensível, era necessário manuseá-lo sempre com muito cuidado, nunca apressando as coisas. Até que um dia nada estava funcionando bem, a paciência havia acabado.

A água que deveria estar à 80ºC, fervia. Borbulhando como nunca, coloquei a água, os grão queimaram quase sufocando em um pedido de ajuda. O vidro da cafeteira que supostamente deveria aguentar tudo, se estilhaçou em mil e um pedaços, felizmente sem deixar marcas em minha pele, mas daquele café eu já não poderia beber jamais. Queimado, amargo, impaciente, levando os cacos que uma vez fizeram parte do meu coração.

Respirei fundo enquanto limpava o último desastre, sabendo bem no fundo que no final nunca estive falando sobre cafeteiras.


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