Abri a caixa me deparando com algo
robusto que esperava há tanto tempo, estava repleta de expectativas.
O aço forte parecia ser tão
duradouro e a esperança era que durasse para toda a vida, a cafeteira italiana perfeita,
sem frescuras. Parecia simples, porém eficiente. A abri para colocar o café na
medida certa e a fechei esperando pelo melhor que estaria por vir.
Liguei o fogo sentindo o meu coração
palpitar de emoção, ver algo tão lindo ser formado a partir de uma fusão. O
café moído ali dentro era pressionado, empurrado, judiado com tanta força que
transbordava em um líquido quase preto. O aroma era bom.
Tentei tocar na cafeteira que ainda
terminava de empurrar o café até o seu limite e me queimei. A dor da queimadura
avançou por todo o meu corpo e pude sentir como corroía o meu ser.
Café servido, xícara fervendo.
O primeiro gole queimou a minha
língua e o gosto era forte, amargo. Tanta pressão deixou um toque de queimado
no fundo da garganta, amargurando a minha alma, já não havia volta atrás.
Por mais que tentasse e insistisse,
o resultado era o mesmo e prometi a mim mesma que nunca voltaria a tentar com
outra cafeteira italiana.
Depois conheci a cafeteira de
cápsulas, tão sofisticada que me prometia a sensação e a experiência completa
na sua casa com algo tão pequeno. As primeiras cápsulas vieram de graça, eram
saborosas, potentes e traziam um ar de fantasia. O café dançava um tango apaixonado
em minha boca que me fazia levitar a cada golada.
Até que as cápsulas acabaram, quis
insistir comprando mais, mas já não era a mesma coisa. As cápsulas demandavam
tempo, carinho e ao mesmo tempo poluíam um pouco mais a minha vida.
Rumores que a cafeteira poderia
aceitar cápsulas que não eram originais e que teriam o mesmo resultado.
Traição.
Era verdade, eu havia gastado tanto
tempo me esforçando com a experiência original e a máquina estava aceitando qualquer
porcaria que encaixasse mais ou menos. Um plástico barato onde você poderia colocar
um café moído meia boca sem ser embalado a vácuo, sem pressão e sem cuidado.
O gosto amargo dessa porcaria
impregnava o meu paladar, fazendo com que eu não pudesse sentir mais o gosto de
nada.
A máquina já estava impregnada e não
funcionava da mesma maneira, os cafés eram asquerosos e decidi deixá-la para
sempre.
Depois do desastre anterior, encontrei
uma cafeteira francesa, era chique, muito delicada, mas era necessário ter
muita paciência para que o café decantasse e pudesse separar o líquido dos grãos
moídos. Na temperatura correta, o café era maravilhoso, encorpado, com toques
naturais, sabor forte; mas jamais amargo.
O êmbolo era sensível, era
necessário manuseá-lo sempre com muito cuidado, nunca apressando as coisas. Até
que um dia nada estava funcionando bem, a paciência havia acabado.
A água que deveria estar à 80ºC,
fervia. Borbulhando como nunca, coloquei a água, os grão queimaram quase
sufocando em um pedido de ajuda. O vidro da cafeteira que supostamente deveria
aguentar tudo, se estilhaçou em mil e um pedaços, felizmente sem deixar marcas em minha pele, mas daquele café eu já não poderia beber jamais. Queimado,
amargo, impaciente, levando os cacos que uma vez fizeram parte do meu coração.
Respirei fundo enquanto limpava o
último desastre, sabendo bem no fundo que no final nunca estive falando
sobre cafeteiras.
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