Aqui, em um dos corredores principais do hospital, há uma
área com cadeiras, mesinhas e umas plantas que não tenho certeza se são de
plástico ou não. Além disso, há uma grande janela que dá para a avenida, bem em
um cruzamento movimentado.
Caminhei até ela, conseguia ver os garçons do bar da esquina
se movimentando para atender aos clientes boêmios que saíram de suas casas para
tomar um chá da tarde acompanhado de medialunas.
O prédio da outra esquina parecia ser bem chique e tinha
alguns apartamentos à venda, no terraço eu conseguia ver o reflexo do que
deveria ser uma piscina e a sombra de algumas crianças que com certeza estavam
aproveitando suas férias na água refrescante.
Quatro da tarde, era o horário em que muitos na Argentina
saíam de seus trabalhos e as crianças da escola, o movimento era muito maior do
que antes. Carros brancos, pretos, vermelhos, todos ali parados esperando o
farol mudar para verde e continuar o seu caminho.
Para onde estariam indo todas aquelas pessoas? Para casa? Um
trabalho no período da noite? Para uma “juntada” com os amigos?
Cada um em seu mundo, com caminhos tão diferentes, mas que
ao mesmo tempo os faziam estar ali, encontrados naquele cruzamento. Da mesma
forma em que nós nos encontramos com tanta gente desconhecida no nosso
dia-a-dia, rotinas tão diferentes, mas o mesmo ponto em comum... um cruzamento,
uma rua, um ônibus... juntos, mas separados, talvez em outra realidade.
Um carro que dobra para a direita, outro para a esquerda...
aquele que passa reto de maneira rápida como se quisesse ultrapassar a todos os
outros.
Pessoas em suas casas sem nem ter ideia do que pode estar
acontecendo na vida do vizinho, os boêmios tomando o seu café da tarde, enquanto
leem um livro, não fazem a menor ideia que do outro lado da rua estou eu,
olhando-os através da janela depois de uma noite de sono mal dormida.
A senhora que passeia com o cachorro tão feliz, não tem ideia
de que na mesma quadra estão as crianças se divertindo no terraço do prédio.
E talvez, no final de tudo, a vida é sobre isso. Vivemos em
um mesmo lugar, mas não convivemos. Todos temos sonhos, vidas, rotinas que se
cruzam, mas nunca chegamos a conhecer todos aqueles que passaram caminhando
despretensiosamente ao nosso lado em um dia qualquer.
Parada aqui olhando por essa janela, me pergunto para onde
estarão indo todos, o que vão jantar, se têm uma família ou se vivem sozinhos,
qual será o emprego de cada um deles e se estarão aproveitando a vida que às
vezes parece tão curta.
Me sento, dessa vez sem poder ter a vista da janela, pouco a
pouco me esquecendo dos detalhes e dos rostos dos desconhecidos que uma vez vi
caminharem pela rua.
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