Imagem sob licença Creative Commons por Marus Spiske |
No fim da tarde, olhei pela janela. Ela estava ali, sentada como sempre admirando o movimento da rua em sua cadeira de balanço.
Me aproximei com cautela, nunca soube muito bem como ela poderia reagir, mas sabia que era ela que deveria permitir a minha chegada, o meu toque.
Olhei, tentando decifrar seus olhos perdidos no movimento da rua, sua boca entreaberta em um suspiro. Lembrei de dias antes de chegar aqui, uma chamada telefônica que mudou tudo, quando aquela frase me deixou tão sem chão.
Agora aqui estava eu, esperando um sinal que ela me reconhecesse, segurando em suas mãos, esperando que se lembrasse de como me cuidava e de tudo o que fazíamos juntas. “Sinto sua falta”, essa frase pesava no meu peito ao ver que ela já não lembrava do meu nome, mas havia algo de mim guardado no fundo dela.
Imaginei, ao ver seus olhos confusos e distantes, as palavras de coisas não ditas que agora se esvaíam de sua memória. As histórias não contadas, o sofrimento não compartilhado, uma vida inteira desaparecendo ao não transformar-se em palavras.
Aqui estou, escutando atentamente a história que emana de seu corpo, de seus gestos e de cada frase solta sem sentido que a conecta com algo do passado. Interpretando aquilo que não foi dito para não perde-la no tempo.
Me
calo e não insisto em perguntar, para que ela não se frustre ao tentar lembrar
de algo que já não está em sua mente, mas que fez parte de sua história E
espero, que por última vez, ela possa dizer o meu nome como o fazia e que em um
dia, em um lampejo, possa contar uma daquelas velhas histórias de sua infância.
1 comments
Me faz sentir e lembrar de minha própria avó.
ResponderExcluirMuito sensível as tuas palavras.
Ha det bra!
Leidiane Holmedal
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