Abri
os olhos e encarei aquele teto branco tão sem cor, minhas mãos contornaram as
ondulações do colchão sentindo cada curva e os pequenos sulcos da costura. Eu
continuei ali, imóvel por algum tempo, pensando em tudo aquilo que havia
acontecido.
Minha
mente foi invadida de memórias que fizeram o meu corpo levantar, quase como se
tivessem vida própria e me empurrassem para frente. “Vamos, vai ficar tudo bem”,
pareciam repetir uma e outra vez, quase gritando um: “levanta a bunda dessa
cama”.
Os
meus pés tocaram o nada ou, pelo menos, eu me sentia assim. Um vidro
transparente mostrava o céu sob os meus pés, mas eu ainda estava no meu quarto.
Caminhei até a porta, mas o vidro, que antes se mostrava tão firme, desapareceu.
Caí
na imensidão, meu corpo pesado ganhava velocidade enquanto meus braços e
cabelos resistiam ao vento que cobria cada aresta do meu ser. Algo dentro de
mim revirara no estômago, respiração acelerada quase por um fio, mas meu
semblante estava calmo e tranquilo.
Finalmente
cheguei ao fim desse abismo. Estava sobre a avenida, entre os carros e o barulho
da cidade, o caos a minha volta refletia o caos dentro de mim.
Abri
os braços de olhos fechados, agarrei o ar como se pudesse agarrar a minha
própria vida, juntei as mãos contra o peito e o silêncio se fez presente.
Eu
estava novamente em casa, parada na sala, encarando os prédios pela janela, meu
corpo coberto e desnudo ao mesmo tempo. Relutei em tocar o vidro com medo que
tudo se desvanecesse outra vez.
O
mundo lá fora não era como o daqui de dentro. Tudo estava tão confuso e a vida
já não era mais a mesma. Caminhei pela casa inteira procurando um sentido, abri
a porta relutando em colocar os pés para fora, não era uma opção, dentro de
casa era seguro e já havia esquecido como era estar do outro lado.
Fechei
a porta com o coração a saltar pela boca, voltei a deitar e encarei novamente o
teto tão monótono, esperando que o dia de amanhã chegue com um sopro de
esperança entre risos, abraços e uma conversa no fim da tarde.
1 comments
Texto incrível!
ResponderExcluirBom fim de semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia