Imagem por Aliceabc0, sob licença Creative Commons. |
Estava irritada; não,
irritada não: irritadiça. Um tanto quanto “nervosinha”. Tudo poderia acontecer
naquele momento, e minha cabeça girava em um turbilhão de ideias e suposições
que não me agradavam.
Então vi a mensagem no
celular, a encarei de canto de olho tentando conter qualquer coisa que sentisse
naquele momento.
Talvez não fosse nada,
talvez não aconteceria nada, talvez não daríamos certo e voltaríamos para casa com
aquele sentimento de decepção. Quem sabe havíamos subido as expectativas a um
nível tão alto que a queda seria dolorosa.
Mas eu era assim, esperava
sempre pelo pior, não queria acreditar que aquela seria a vez em que tudo daria
certo. Porque era mais fácil desistir de tudo no meio do caminho, do que chegar
ao final e deixar que a outra pessoa entrasse no emaranhado que eram meus
sentimentos.
A mensagem no meu celular
estava lá, uma carinha feita de dois pontos e um número três. Respirei fundo
com o coração quase por saltar pela boca. Era a hora da verdade. Levantei da
cadeira e caminhei indo em direção ao seu encontro.
Pessoas e mais pessoas me
rodeavam, a rua estava lotada, culpa da Feira do Livro. Achava irônico o fato
de dois escritores não terem seu primeiro encontro ali, acredito que, de
maneira inconsciente, sabíamos que os livros nos distrairiam e ficaríamos
submergidos em mundos paralelos.
Sinto uma vibração no
celular. Uma mensagem sua. Coração saltando pela boca.
Aperto o play, esperando
para que o semáforo de pedestre, na frente da Rural, fique branco. Olho para os
lados, procurando-o e escutando a sua voz naquela gravação. Já o havia
encontrado, um leve borrão do outro lado da rua por causa da minha miopia, mas
eu sabia que era você, caminhando em passos curtos de um lado para o outro,
mãos nervosas pelo cabelo, camisa azul.
Coração mais acelerado. Um
sorriso bobo no rosto ao escutar suas instruções de como estava vestido, mas eu
já sabia exatamente onde você estava.
Caminhava com meus passos
naturalmente apressados, com medo de que não me reconhecesse. Será que eu era
muito diferente das minhas fotos? Será que eu havia exagerado na maquiagem?
Atravessei aquele mar de
gente até encontra-lo.
Você me buscava entre os
diferentes rostos da multidão e logo seus olhos se arregalaram ao notar-me,
checou novamente o celular e sorriu ao ver-me por primeira vez.
Cumprimentamo-nos com um
beijo no rosto, meu coração acelerado e mãos levemente trêmulas de tanta
animação acumulada no meu pequeno corpo.
A maneira que nos movíamos
perto um do outro era estranha e desajeitada, estava claro que não sabíamos ao
certo o que fazer ou quais eram os limites. A conversa fluía facilmente enquanto
caminhávamos, os assuntos eram dos mais diversos.
Sorrisos, risadas e
encaradas bobas de canto de olho.
Estávamos tão imersos em
nós mesmos que caminhávamos sem direção, os bosques ao nosso redor não nos
importavam, os patos dos lagos não foram notados e tampouco as flores do
Rosedal.
Passamos por entre árvores
e de Plaza Italia chegamos à Juramento em um piscar de olhos. Era muito fácil
de perder-me em você e meu corpo se deixava levar por qualquer lugar que você quisesse
ir.
Então, quase por terminar,
nós nos sentamos na grama, em uma praça. A música ao vivo era perfeita e as
crianças brincando ao nosso redor nos divertia nos levando a assuntos que
aqueciam o meu coração.
Silêncio se fez entre nós.
A brisa fresca, a música ao vivo, o sol aquecendo nossa face, cachorrinhos
passando ao nosso lado. Olhares tímidos que se encontravam, sorrisos bobos e
uma vontade enorme de fazer com que, pelo menos, nossos ombros se tocassem por
um breve período de tempo.
Naquele instante, entre
olhares de canto cruzados, foi quando eu o vi de verdade e soube que seria
diferente, que você seria diferente de todos os outros, que nós seríamos
diferentes de todos os outros “nós” que eu havia feito parte. Algo dentro de
mim brilhava e se exaltava, como um grande sinal gritando que dessa vez daria
certo. Meu sexto sentido nunca se enganava, e aquela esperança, que estava
morta há tanto tempo, havia voltado. Talvez fosse você, depois de todos esses
anos à espera.
Não entendia o que estava
acontecendo comigo, nunca havia me sentido assim. Só sabia que precisava de você
e que queria vê-lo de novo.
3 comments
Que texto mais fofo Ayumi. Terminei de ler com aquela sensação de quentinho no coração. Achei bonito de ver que no final a fé no amor e na possibilidade de as coisas darem certo mudaram para ela de uma forma positiva.
ResponderExcluirBlog Profano Feminino
Fico feliz que tenha gostado :3 :3 quem sabe tenha mais continuações, a história não terminou por aqui ;) hehe
ExcluirAyumi, que lindo!
ResponderExcluirÉ bom ficar com essa sensação de esperança que seu texto traz no término da leitura.
Beijos,
Fê
Algumas Observações