Splish Splash |
É
engraçado como a gente sempre se preocupa com coisas bestas quando está na
adolescência, tipo não usar a mesma roupa muitas vezes ou se as meias no sutiã
não estão aparecendo. A gente faz o possível e o impossível para tentar se
encaixar, inclusive pagamos muitos micões no processo, mas o que eu vou contar
aqui é a pior das experiências possíveis dessa vida, que faz com que você fique
completamente maluco! É gente enchendo o seu saco para lá e para cá, paranoias
por todos os lados e um pensamento que o persegue toda vez que você sai com os
amigos, pensamento que diz “é hoje, é hoje, é hoje” e no final não acontece
nada, seja por medo ou simplesmente porque ninguém veio falar com você. Hoje vamos falar de:
Quando
somos crianças, nem ligamos muito, falamos “eca” e parece ser uma coisa
beeem estranha que os adultos fazem, afinal, quem teve a ideia de colocar a
língua na boca da outra pessoa? É tipo uma troca de baba, o que estavam procurando ali dentro? Cárie?? ENFIM, nós crescemos
e assuntos do tipo “quando você vai perder o BVL?” são bem comuns, o que pode
ser muito chato para muita gente, é como se os BVL e os não BVL se separassem
formando a sua própria seita de trocadores de saliva, deixando os outros de lado.
E
nós ficamos alucinados por essa ideia, porque a vizinha já beijou, o outro
também e aquela da rua de trás já está namorando. Enquanto isso, você está aí,
imaginando o dia em que algo do tipo vá passar. Eu já até cheguei a pensar que
morreria sem ter beijado alguém, mas essas coisas loucas sempre passam pela
nossa cabeça. Tudo depende do tipo de primeiro beijo que você quer, já vou
dizendo que a maioria é bem vergonhoso e estranho, tem gente que está
desesperada e pega o primeiro tribufu que aparece, outros saem “pegando”
qualquer um que encontrou na baladinha e outros demoram mais, porque querem que
seja algo especial.
HÁ
HÁ HÁ (rindo para não chorar).
Hollywood
vende uma imagem de que o primeiro beijo é especial, cheio de flores e que você
vai ficar com o cara dos seus sonhos logo de primeira, que vai ser lindo e nem
um pouco estranho, com direito a música de fundo e um romance meloso daqui para
frente, mas é exatamente o contrário, meus amores! (Confesso que eu gritei
horrores com o primeiro beijo da Sam e do Freddie, mas gritei muito mais no
iOMG, #seddie). Ok, não é tão ruim, cada experiência é diferente e é
até engraçado às vezes. E o melhor de tudo é que você vai lembrar disso para
sempre e será uma boa memória, não importa se no momento foi muito
constrangedor.
Mas
vamos ao que interessa...
Era
uma tarde calorosa de julho quando a Mirella veio até a minha casa e me trouxe
um copo com gelo. Juro que olhei para a cara dela e falei “cadê o suco?”, mas
ela tinha outros planos para aquele gelinho inocente, um que envolvia muita
baba.
Vou
explicar melhor, a Falsiane estava enchendo o nosso saco desde o primeiro diade aula do sexto ano por causa do BVL, já que a Nadine já tinha beijado (não
confirmado até hoje) e a gente não. Então a Mirella se cansou e estava decidida
a beijar um menino nesse ano, nem que ela precisasse sair com uma placa
pendurada no pescoço que dizia “free beijos”. A sala inteira estava falando
sobre isso, alguns diziam que tinham beijado e outros que estavam até
namorando, claro que 99% estava mentindo só para manter a pose de bonzão, mas
os olhares de desprezo que eles davam quando você dizia que era BVL era muito
real e doía no ego. Pré-adolescentes estúpidos!
Enfim,
estávamos nós duas no meu quarto, pensando em como a vida era muito esquisita.
—
É fácil, dizem que é só tentar pegar o gelo com a língua. — A Mirella explicou tentando
parecer convincente, e eu olhei para aquele cubo de gelo dentro do copo vazio,
acho que eu preferia tomar uma Coca.
— Vai Li, você não quer ficar para trás, não é? — Típica frase de pressão de
adolescentes.
—
Você sabe que eu estou esperando o cara especial! — (Acho que já deu para
perceber qual tipo de beijoqueira era cada uma).
—
Tá, mas você não quer dar um beijo horrível nesse seu boy dos sonhos, né? Tem
que treinar. — Ela apontou para o copo que estava na minha mão.
Olhei
mais uma vez para aquele gelo e respirei fundo. A Mirella já estava dando uns
amassos ali, o que era bem bizarro, como se ela estivesse beijando um menino
transparente, já que eu via a língua dela se contorcendo toda. Então foi a
minha vez, afinal, a gente não quer fazer feio, né?
Era
a coisa mais ESTRANHA, ENGRAÇADA E FRIA do mundo, foi nesse instante em que eu
descobri que câimbra na língua existia, estava tão gelado que eu nem sentia
mais a minha boca. Então, de repente, ficou aquele silêncio constrangedor com
um fundinho de “chup chup” e nós explodimos em gargalhadas. Éramos duas idiotas
beijando um gelo e não paramos por aí, meu bem!
Procuramos
na internet, no Flogão para ser mais específica, e achamos a técnica da
laranja. G-zuis, foi pior que o gelo! A Mirella pegou a maior laranja da casa
dizendo que assim seria melhor, eu, a azarada, peguei justo uma laranja azeda
que transformava o meu rosto em um cosplay do Corcunda de Notre Dame. Mordíamos
e babávamos na coitada da laranja, o mais estranho era a consistência dos
gominhos, não era nem um pouco natural, o pior de tudo era quando algum deles “explodia”
e eu era contaminada com o gosto da laranja azeda maligna.
—
Mi, é normal ficar com o rosto todo babado? — perguntei sentindo todo aquele grude no meu rosto inteiro que estava coberto de rastros de laranja, do queixo ao bigode e do bigode às bochechas.
—
Gente, será que a gente sai com a cara toda babada mesmo?
E
se fosse verdade? Credo, imagina só que bizarro. Baba fede...
—
Acho que não, nos filmes eles não parecem babados, Mi.
—
É, você tem razão, talvez a gente possa tentar outra coisa...
Voltamos
para o computador ao som de Baba Baby da Kelly Key e encontramos a última
técnica, já que as outras eram variações da laranja, diziam até para fazer com
pêssego para fingir que estava beijando um menino com barba por fazer (HÁ HÁ
HÁ). Outra técnica que não fizemos foi treinar no espelho, era o treino mais
bizarro, porque víamos a nossa cara no espelho, como se estivéssemos beijando a
nós mesmas, isso sim que é amor próprio.
A
última técnica era a mais fácil e nojenta de todas, beijar a própria mão, que
significava babar na mão inteira. E assim se foi a nossa tarde, treinando
beijos na própria mão e com gelo (era a forma mais divertida). O engraçado é
que nós nos divertimos imaginando como seria, claro que sempre dava aquele
friozinho na barriga só de imaginar acontecendo de verdade e a gente se cobrou
bastante nos próximos anos para que acontecesse logo, mas é uma coisa tão
simples e comum.
A
Mirella beijou primeiro que eu, em uma festa de aniversário que parecia uma
baladinha, ela se entupiu de energético e parecia uma pipoca ambulante, acho
que isso a deixou tão elétrica que teve coragem de beijar o Jorginho quando
estávamos no oitavo ano. Sim, o Jorginho, aquele mesmo, o rival eterno e paixão
secreta (não tão secreta) da Mirella e não, não foi ela que o agarrou, foi ele
que chegou perto e perguntou se ela queria ficar com ele, em um segundo eles
estavam lá e no outro desapareceram. Depois ela voltou com um sorriso bobo no
rosto e o Pedro deu a louca gritando de alegria. Falsiane ficou com invejinha,
eu lembro bem da cara de cobra dela, colocando a linguinha para fora e
espalhando veneno por onde passava.
Depois
disso as coisas ficaram mais difíceis para mim, quando a sua melhor amiga já
beijou e você não, é meio zuado. Por que o assunto vai mudar completamente para
beijos, baladas e meninos. Então você se sente meio de lado e é ruim sentir que
está ficando para trás, que todos já fizeram algo que você ainda não fez. A
gente até começa a perguntar se tem algo errado, se alguém um dia vai querer a
gente ou qual é o problema, mas a verdade é que não há problema algum. A gente
tem essa mania de comparar a nossa vida com a dos outros, mas cada um tem um
tempo diferente e vivencia coisas diferentes, alguns demoram mais e outros
menos. O que importa é que uma hora chega. Então não se preocupe se você for o
último do grupo a beijar, é normal.
Eu
beijei com quinze, era o meu crush do momento e eu estava toda serelepe, porque
ele havia me convidado para ir ao cinema. A Mirella já havia gritado um “aleluia”
pelo telefone, no dia anterior, quando eu comentei que sairia com o paquera e o
Pedro havia ficado tão feliz que irradiava purpurina pela webcam do MSN. E eu
estava com aquele frio na barriga, me perguntava o tempo todo quando iria
acontecer e SE iria acontecer, talvez o boy magia fosse amarelar ou quem sabe
sair correndo quando percebesse a loucura que estava fazendo (na época a minha
autoestima era fundo-do-poço-estima).
Vimos
todo o filme, eu com o coração quase saltando pela boca, porque o infeliz do
crush não fazia nada e eu esperando igual a uma tonta, estava tão ansiosa que
nem consegui prestar atenção no filme. Talvez fosse isso, o boy não tinha
atitude e muito menos eu, talvez eu devesse voltar para casa e reatar o meu
relacionamento com o cubo de gelo do sexto ano, pelo menos ele me fazia rir e
gelava o meu refri.
E
então, quando estávamos passando por dentro de uma exposição de flores, que
ficava no grande pátio do shopping (aqueles lugares que mudam de atração todo
mês), nós paramos para olhar uma parede coberta de flores, ele parou de frente
para mim e apoiou uma das mãos na minha cintura. A única coisa que eu consegui
pensar foi “AIMDSDOCÉUJESUSAMADOOHMYGÓDI QUE É HOJE QUE EU PERCO ESSE BENDITO
BVL, É AGORA, É AGORA, É AGORA, É AGORA”.
Ele
foi se aproximando aos poucos, de olhos fechados, e a minha pança já havia
virado um polo norte. Eu, besta, ainda de olhos abertos o vi de olhos fechados e
a boca abrindo aos poucos, nesse momento eu entendi porque todos fecham os
olhos, cara de pré-beijo é engraçada, mas eu não ri, queria muito, mas não ri.
Sua
boca encostou na minha e pronto. Não surgiu nenhuma música maravilhosa, nenhum pezinho
de donzela foi levantado como nos filmes e o meu cabelo não esvoaçava em um
vento refrescante da brisa da primavera.
A
primeira coisa que pensei foi “ok, ele definitivamente não é uma laranja”. E
BEIJAR É MUITO, MAS MUITO, ESTRANHO, você acha que vai ser molhado por causa da
baba, mas é ao contrário, a língua é meio áspera e fica uma “acariciando” a
outra e você não sabe ao certo onde colocar os braços, (definitivamente não é
um cubo de gelo), O MAIS IMPORTANTE É CONTINUAR DE OLHOS FECHADOS. Então você
se pergunta “era por causa dessa sensação bizarra que todo mundo fazia esse
bafafá? Credo” e chega até a pensar “todos os beijos vão ser assim de bizarros?”,
mas depois de um tempo você se acostuma e é um estranho bom, afinal, se não
fosse uma coisa interessante de se fazer, ninguém sairia beijando as pessoas
por aí, não é? Só lembre-se de respirar e de não sufocar a outra pessoa (ou de
querer engoli-la viva).
O
que eu queria dizer aqui nessa página do NÃO diário, é que nenhum primeiro
beijo é perfeito e que treinar com uma laranja pode deixar você mais confiante,
mas não chega nem perto do ao-vivo, por isso, não se preocupe porque é algo mais
natural, não pense muito na hora. Outra coisa muito importante é que você não
deve se apressar e querer fazer as coisas o mais rápido possível porque os
outros já fizeram ou insistem para que você faça, afinal, ninguém ficou
pressionando os primeiros que beijaram, foi natural, e você tem o direito do
mesmo. Um dia vai acontecer, quando você menos esperar e quem sabe até com
aquele crush que você tem ou com outra pessoa que você ainda não conheceu. O
problema de querer apressar é que, muitas vezes, isso pode gerar situações
desconfortáveis que acabam em memórias desastrosas, mas tudo depende de você. O
importante é aproveitar a adolescência e não se pressionar tanto com o primeiro
beijo, primeiro namorado... porque existem coisas muito mais importantes, como
uma saída com amigos, um almoço em família, lembrar as pessoas o quanto você as
ama e praticar algum hobbie que você gosta.
A
vida é assim, cheia de experiências boas, ruins e engraçadas. Não tenha medo de
seguir em frente e de esperar, se quiser esperar. No final, só sobram as nossas
recordações para compartilhar com os amigos. Don’t worry, be happy.
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