Meus pés, ah, meus pés movendo-se sobre os
grãos de areia que acariciavam sua pele desgastada, cheia de cicatrizes e calos
que escondiam em si toda a minha história.
Ali estava eu, sentindo o vento frio fazer
sua própria dança com os meus cabelos, rodopios que traziam um tipo bom de
tontura e as lágrimas quentes que desciam por minha face.
Me disseram que eu nunca mais poderia
dançar, mas o que isso significava? Disseram que meu sonho havia acabado, mas este
era parte de algo muito maior, algo que o tornava insignificante.
Dançava para lembrar, fortalecer, sentir a
vida que corria em minhas veias. Dançava para ter consciência do aqui e agora,
dos limites do meu corpo. Dançava simplesmente para sentir e manter aquele
sorriso bobo no rosto, um sorriso de satisfação e alegria.
Me disseram que esse era o fim, mas esqueci
de avisá-los que talvez esse fosse, não o começo, mas sim uma pausa para a
continuação de algo maior. Esqueci das técnicas, da posição, das roupas
extravagantes, grampos e esparadrapos. Coloquei meu vestido mais solto, cheio
de decotes, joguei para longe meus sapatos e libertei o cabelo, que há tempos
não vivia sem gel para acalmar suas ondas teimosas.
Corri o mais longe que pude, até escutar o
som do mar e ver as luzes fracas dos restaurantes. Um grupo de adolescentes ria
ao redor de uma fogueira torta e um casal caminhava de mãos dadas, como se o
resto do mundo não importasse.
Eu queria fazer parte desse mundo.
A areia congelante entre meus dedos
desnudos me lembrou de uma época mais fácil, onde tudo era feito pela diversão.
Fui tomada por aquela sensação de ser criança de novo, de mover-me com a batida,
de sentir mais do que pensar.
Dancei escutando uma música que existia
somente em minha cabeça, era livre para mover os meus braços e pernas da forma
que queria, não havia ninguém para me corrigir ou dizer o que deveria fazer.
Essa era eu libertando a minha alma,
trocando dever por prazer, voltando a ser quem realmente era. Buscando a
felicidade que sempre esteve aqui dentro de mim.
Dancei sobre a água iluminada pela lua, as
pernas molhadas de água salgada e os cabelos balançando em um ritmo próprio. Eu
seguiria dançando. Dançando até não poder mais, até minhas pernas cederem de
exaustão. Seguiria dançando até a meia-noite quando a lua me banhasse por
completo.
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