Amigos estão lá nos
piores e melhores momentos das nossas vidas, compartilhamos segredinhos e
histórias de vida com essas pessoinhas amadas. Eles sabem dos nossos sonhos e principalmente dos nossos crushs. E é
sobre isso que eu quero falar hoje.
Todo mundo já teve ou vai
ter uma quedinha por alguém, é inevitável, agora ser correspondido já é outra
coisa. É óbvio que seus amigos vão querer te ver feliz (a não ser que sejam
como a Falsiane, ai é inveja e puro veneno escorrendo). A busca por essa
felicidade romântica pode ser complicada dependendo de quem o seu coração
maluco resolver amar, mas não se preocupe porque a adolescência faz algo com o
cérebro das pessoas e as ideias mirabolantes jorram como água. O problema é
saber se essas ideias são boas ou não.
Às vezes a gente acha que
a vida parece filme, e pode parecer mesmo, até porque, a arte imita a vida.
Vamos logo ao que
interessa!
A Mirella andava meio
estranha nos últimos dias (meio abestada e sorridente), eu e o Pedro não
fazíamos a menor ideia do que estava acontecendo até que vimos ela suspirando
pelos corredores da escola, isso foi logo depois de falar com o Jorginho, o que
era bizarro porque os dois estavam sempre brigando. Seriam inimigos mortais se
quisessem, tipo fandom de HP e de Crepúsculo.
Jorginho era um dos meninos mais inteligentes
da sala, só não era o mais popular porque não curtia muito andar com os meninos
bagunceiros, preferia ficar com os nerds adoradores de Star Wars (os outros nerds adoradores de Star Wars, não a gente). Enfim, voltando ao foco. Jorginho era
legal, só que muito competitivo e a Mirella era sua principal concorrente desde
o quarto ano. Os dois já tinham se metido em brigas feias com direito a puxões
de cabelo e empurrões, faziam de tudo para ganhar e estavam sempre discutindo
teorias de filmes e seriados, nunca chegavam em um acordo. Era tipo a Terceira
Guerra Mundial todos os dias.
Mas naquele dia, ela
estava muito estranha e com uma cara de tonta — mais que o normal. Perguntamos
se alguma coisa tinha acontecido e ela respondeu com um simples “não”, ficamos
muito desconfiados porque ela nunca tinha escondido nada da gente. Fomos para a
aula e de repente um milagre aconteceu, ou quase isso, tipo isso, foi estranho, bem bizarro.
A professora havia
separado a Mirella da gente e a colocou em um grupo onde o Jorginho estava, e
NÃO HOUVE REAÇÃO NENHUMA DOS DOIS (isso mereceu ser gritado com caps). Eles não
reclamaram, nem gritaram e nem se estapearam, então eu cutuquei o Pedro para
avisar do milagre na Terra e eu soube que a Mirella estava xonada no
arqui-inimigo dela.
Minha cabecinha já estava
bolando um plano de gênio, eu só precisava achar um jeito de ficar sozinha com
o Pedro para convencê-lo a me ajudar, o que não foi muito difícil. O nosso
grupo tinha umas nove pessoas e não poderíamos ir todos na casa de um para
fazer o trabalho, então dividimos. Eu e o Pedro faríamos uma pesquisa sobre
poluição sonora e os outros sobre outros tipos de poluição. Era perfeito! (Não
sei como eu ainda não dominei o mundo).
Fui para a casa dele
depois da aula e lá começaríamos com o nosso plano de juntar a Mi com o
Jorginho. Quando ficamos sozinhos no quarto do computador, eu contei tudo o que
havia visto hoje.
— EU SABIA! — Ele gritou
quase me deixando surda. — Era muito ódio e tempo sendo gasto em um menino só.
Acho tão lindo quando ódio vira amor, parece até novela das oito, cheio das
reviravoltas, só falta uma irmã gêmea para as coisas ficarem mais
interessantes.
— Foco no que é
importante, Pedro. Você sabe que eles nunca admitiriam que se gostam, então eu
pensei em dar uma mãozinha. O que acha? — Meus olhinhos brilhavam de
genialidade.
— Claro, nascemos para
ser cupidos. Agora me conta tudo.
— A gente tranca eles no
armário onde a professora guarda os trabalhos dos alunos, sabe?
— Ficou louca Pauli? Como
a gente faria isso? — Ele arregalou os olhos assustado. (E eu achando que era
gênia). — Eles iriam se matar ali dentro e ficariam bravos com a gente. Temos
que fazer alguma coisa mais sutil, algo que eles não relacionem com a gente.
— Claro. — Revirei os
olhos. — Como se fôssemos conseguir que eles se declarassem um para o
outro, é mais fácil um ET descer do céu dançando Macarena do que esses dois se
juntarem por pura e espontânea vontade. — Bufei entediada, ser cupida não é
fácil, quero meu dinheiro de volta.
— Você disse declaração?
É perfeito! — Ficou louco, só pode. — Vamos fazer cartinhas de declaração,
Pauli! — Ele me chacoalhou pelos ombros contente com a sua ideia de gênio.
O trabalho da poluição
sonora ficaria para depois, como qualquer outro trabalho de escola que você faz
na casa do amigo.
O Pedro pegou algumas
folhas e, por sorte, tinha guardado uns trabalhos do ano passado que tinham as
letras do Jorginho e da Mirella. Fizemos alguns rascunhos de cartinhas em uma
folha separada e logo treinamos nossas imitações. Eu faria a letra da Mi e ele
a do Jô, colocaríamos essas cartas em suas mochilas na hora do lanche. Seria
uma missão perigosa, mas valeria à pena.
...
A ansiedade era tanta que
eu achava que o Pedro ia ter um siricutico, não parava quieto um segundo, isso
até que a hora do lanche chegou, aí nós dois endoidamos de vez. Deixamos a
Mirella conversando com a Falsiane e subimos escondidos para o segundo andar,
tudo na surdina.
Quase tivemos um enfarto
quando ouvimos passos no final do corredor, era a diretora! Estávamos tão
assustados que ficamos duros como pedra. Pedro me puxou para
baixo, nós nos arrastamos pelo chão frio como duas minhocas vesgas e nos
escondemos debaixo de um banco.
Respirei fundo para
tentar acalmar os nervos, se não nós nunca iríamos conseguir juntar o casal.
Tapamos nossas bocas para não soltar nem um A. Vimos o perigo passar diante dos
nossos olhos, e por perigo eu digo os saltos da diretora passando na frente da
nossa cara. Quando ela já estava longe, nos arrastamos para fora do banco.
Caminhamos devagarzinho
até a sala e percebemos que tínhamos que passar pela diretoria antes de entrar.
Claro que a gente ficou com um cagaço daqueles, o que nos esperaria? A
detenção? Expulsão?
— Vai você, eu fico de
olho aqui. — O Pedro sussurrou. — Eu te aviso quando passar.
— Tá bom.
Ele esticou o pescoço e
viu que a secretária estava ali e para o nosso azar, era certeza que a diretora
não demoraria para voltar. Eu me preparei e me ajoelhei pronta para sair engatinhando.
— Vai, vai, vai. — O
Pedro empurrou as minhas costas e eu só fui.
Se é possível correr
engatinhando, eu não sei, só sei que cheguei muito rápido na nossa sala. Já de
pé, corri até a mala do Pedro e peguei as duas cartinhas. Fui até a mala da
Mirella e deixei a dela no bolso da frente da mochila, corri até a do Jorginho
e coloquei a carta no caderno que ele usaria na próxima aula. É hoje que a
Mirella desencalha!
Ouvi o “toc toc” dos
saltos da diretora e gelei, arregalei os olhos desesperada, parecia que alguém
estava esmagando os meus pulmões porque nem um pouquinho de ar entrava neles.
Corri desesperada para fora da sala e senti alguém puxar o meu braço com força.
Caí para trás assustada,
o Pedro tapou a minha boca e me segurou com força para que eu não reagisse. Já
estava pronta para sair estapeando quem queria me sequestrar (háháhá,
imaginação ia longe naquela época). Cambaleei de olhos arregalados com o
coração quase saindo pela boca, pisquei rapidamente tentando entender o que
estava acontecendo, por uns instantes eu só conseguia ver uma coisa metálica na
nossa frente, até que eu notei que era o bebedouro que soltava mais cloro que
água.
Pela fresta entre ele e a
parede, vimos a diretora entrar na sala. O Pedro soltou o ar aliviado e eu
finalmente pude respirar.
Que horror, essas coisas
não fazem bem para o coração não.
— E agora, como a gente
faz para sair daqui?
— Do mesmo jeito que
viemos.
Nos espreitamos até a
porta da diretora e olhamos de canto de olho, as duas estavam muito ocupadas
lendo alguns documentos, então nós metemos a louca e corremos como se não
houvesse amanhã, descemos as escadas quase que rolando e chegamos praticamente
mortos até o nosso banco especial dos rejeitados.
— Qual o problema de
vocês dois? — A Falsiane perguntou com aquele olhar de mosca morta.
— Apostamos uma corrida
do banheiro até aqui. — Respondi cutucando forte o braço do Pedro para ele
prestar atenção na mentira e concordar.
— Claro! Foi isso mesmo,
e a Paulina ganhou. Sua feia, na próxima eu ganho! — Ele me cutucou mais forte
para se vingar dos meus cutucões.
A hora do lanche terminou
naquela expectativa enorme, o siricutico voltou dentro de todos nós. Subimos as
escadas quase nos descabelando de tanta emoção, a Mirella e a Falsiane não
entendiam nossos risinhos e pés descontrolados batendo no chão. Quando entramos
na sala, eu quase tive um AVC!
Jorginho estava segurando
o caderno com a carta dentro, isso significava que eu precisava que a Mirella encontrasse
a dela também! Eu a empurrei até a sua mesa e quase joguei ela na cadeira,
ainda bem que eu sempre fui meio louca, então ela só reclamou da minha pressa e
se sentou.
O Pedro já estava no
lugar dele no meião da sala e esticava o pescoço para ver se a Mi já tinha
encontrado a cartinha dela. Fiquei de olho enquanto ela pegava a mochila para
guardar o seu potinho vazio e PIMBA! Tirou o envelope de lá com a testa
franzida.
— Mas o que é isso? — Ela
o abriu apressada e leu atentamente.
Do outro lado da sala o
Jorginho lia a sua carta. É hoje, é hoje! Pisquei para o Pedro, nosso plano
estava dando certo, quer dizer, ESTAVA mesmo porque no final não deu muito certo.
A Mirella não tinha
nenhuma expressão no rosto, não estava feliz, nem triste, nem com raiva...
nada! Eu achei que ela fosse cair dura no chão porque ficou pálida de repente,
mas então ela começou a ficar vermelha e vermelha, virou um pimentão.
— Você ficou maluco? —
Ela foi até a frente da sala falar com o Jorginho que havia acabado de ler a
carta. — O que acha que vai conseguir com isso? — O circo já estava armado e o
barraco ia ser feio.
— Eu é que pergunto isso
para você, sua louca! O que é isso? — Ele balançou a sulfite mostrando que
havia recebido uma também.
Mirella fechou a cara na
hora e puxou a carta das suas mãos lendo o que estava escrito, Jorginho fez o
mesmo com a dela.
Nessa hora eu e o Pedro
percebemos a cagada que fizemos (desculpe-me pelas palavras).
As mãos da Mirella
tremiam tanto que parecia que ela tinha Parkinson e os olhos tão arregalados
que ela praticamente já não era mais mestiça. O Jorginho estava vermelho, mas
não de vergonha, de raiva, dava para ver que ele tinha sangue no “zóio”.
Então gritaria começou,
eles falavam que não tinham escrito aquilo e que deveria ser uma brincadeira de
mau gosto, se xingaram de tudo quanto é tipo de coisa (bobo, besta, idiota).
Uma rodinha de curiosos se formou em volta deles e a gritaria aumentou com o
povo jogando lenha na fogueira: briga, briga, briga! Isso até que a professora chegou e botou
todo mundo para correr (no caso sentar nas cadeiras). A sala inteira ficou
quieta, não dava para escutar nem um pio.
— O que foi que aconteceu
aqui? — Ela cruzou os braços na frente da sala inteira e todo mundo começou a
se encarar com uma cara de “ih, ferrou”.
— A louca da Mirella,
professora. — Jorginho respondeu sem pensar duas vezes.
Nessa hora eu pensei:
Oops, acho que é hora do show.
— Louca nada, seu babaca!
— Ela respondeu nervosa e a professora parecia o Boitatá, soltava fogo pelas
ventas.
— Quietos! — Ela gritava
tão forte que fazia o chão tremer! Sons de raios e trovões pareciam acompanhar
os seus berros, tipo uma bruxa, só que sem verruga e narigão (acho que ela foi
para Hogwarts). — Alguém me explica o que aconteceu, agora!
Depois de dez minutos de
explicação e briga por parte da Mi e do Jô, a professora finalmente entendeu o
que havia acontecido e confiscou as cartas, disse que resolveria isso
analisando as letras. Nessa hora eu e o Pedro congelamos, já podíamos partir
dessa para melhor, estava até pensando no meu testamento e no que queria
escrito na lápide: Brilhei tanto que fui para o céu virar estrela, dois beijos
para vocês.
Suor frio escorria pelas
nossas testas quando a professora sorriu terminando de analisar as cartas.
— Ela nos descobriu, é o
fim, adeus mundo! — Pedro sussurrou para mim de longe e eu comecei a rezar
(juro que rezei mesmo, e olha que nem religiosa eu era).
— Já sei o que aconteceu,
essa letra aqui é do Pedro... — a Mirella interrompeu a professora.
— E a outra, de quem é?!
— Olha Mirella, essa
letra é igualzinha a sua. Tem certeza de que não foi você que escreveu? — AI
MEU DEUS DO CÉU, FUI SALVA PELOS ANJOS DA FALSIFICAÇÃO DE LETRAS.
A professora chamou os
três; Mirella, Pedro e Jorginho; para conversar do lado de fora da sala para
não gerar mais confusão. No final, a prof. não deu castigo para ninguém, mas a
bomba veio quando a Mi veio falar com a gente sobre isso. Tive que contar que
fui eu que copiei a letra dela e ouvi todinho o seu chilique, ela ficou mega
chateada e estava pensando em desistir de ser minha amiga. Foi uma conversa bem
feia a que tivemos, nós dois pedimos desculpas pelo micão que a fizemos passar
e depois ela admitiu que estava um pouco a fim do Jorginho sim (eu sabia!).
Depois desse dia, as
coisas estavam meio estranhas entre os inimigos mortais, a Mi e o Jô nem olhavam um na cara do outro, não
sei se era vergonha ou raiva, ou algum outro sentimento. Ficaram nesse “você
não existe” por dois meses até que... ok, essa história vai ficar para outro
capítulo (MUAHAHAHA).
Mas o que eu queria dizer
é que muitas vezes a gente quer ajudar os nossos amigos, dar um empurrãozinho
para que eles conquistem logo o crush, afinal, a gente que ver nossos bests
felizes. Só que dependendo da situação, fazer algo pode ser a pior coisa que
possa acontecer. Às vezes a gente tem que deixar que eles resolvam isso por
conta própria, ao seu tempo, respeitar as suas escolhas; e o mais importante de
tudo, é conversar com eles sobre isso. O nosso pior erro foi não ter falado com
a Mirella antes de agir, talvez ela tivesse uma ideia melhor e assim
evitaríamos toda essa confusão na sala de aula. Às vezes a ajuda dos “cupidos
de plantão” funciona e às vezes não, é só pensar se você gostaria de estar na
mesma situação que seu amigo. Ainda tem muita história de crushs por vir, mas
deixo essa primeira aqui para vocês.